quarta-feira, 10 de março de 2010

Irrita..


Despedi-me do velhinho “eu”. Tenho andado tão irritado nos últimos dias que o mundo parece ter ficado mais pequeno, mais egoísta, muito mais “mau” e acima de tudo muito mais ignorante. Irrita-me estar neste estado de irritado (a minhas desculpas pela redundância), pareço um velho resmungão a quem não mudaram a fralda a tempo e ele não pode sair da cama. Não sei como isto começou, nem sei como vai acabar, mas certamente muita coisa vai sair daqui “para o melhor e para o pior”. O descontentamento começa quando o trabalho começa, esse é um ponto assente, mas ao contrário do normal ele agora tem-se expandido para lá da hora de expediente. Com esta irritabilidade matei o meu velhinho “eu”. O funeral foi a dias, com direito a salva de tiros e outras panóplias de alcoviteira á mistura. O velhinho “eu”, aquele sorridente para tudo e todos, politicamente correcto, amigo do amigo, sempre pronto a ajudar e um certinho do caraças, entrou em conflito com o novo “eu” que nasceu e cresceu a dias, tornando-se adulto num piscar de olhos, e o velhinho “eu” aquele companheiro de longa data não aguentando o novo “eu” acabou por morrer. O choque provocado por ambos ditou a morte do mais fraco. Sendo assim o velhinho “eu” morreu definitivamente, não há volta a dar. Subiu o novo “eu” ao poder.
                Andar irritado só me fez ver o mundo de uma nova perspectiva. O novo “eu” é mudo para com o mundo e apenas fala se lhe perguntarem alguma coisa de uma forma directa e com todas as palavras dentro do contexto e correctamente colocadas na frase e mesmo quando lhe perguntam pensa sempre o quão estúpido é quem lhe fez aquela pergunta. O novo “eu” é cumpridor apenas dos horários de trabalho, aos outros horários gosta de os tornar flexíveis, principalmente os horários destinados ao ócio. O novo “eu” detesta ouvir os outros a falar, em conversas sem qualquer fundamento em que o “diz que disse” impera, para o novo “eu” isso não existe e dá direito a tribunal por levantamento de falsos testemunhos. O novo “eu” crê e tem quase a certeza absoluta que está um patamar acima da média e que os seus conhecimentos são na sua maioria infinitos. Mas o novo “eu” continua irritado e essa irritabilidade não lhe faz ver a verdade dos seus actos. Crê que está certo, mas na realidade talvez apenas esteja em parte certo, crê ser superior quando na realidade os outros todos o vêem no mesmo patamar. Mas mesmo assim começo a gostar deste novo “eu” e não vai ser o desaparecer desta irritabilidade que o vai dissipar. Um novo funeral é que não faço, dois funerais seguidos não há ser humano que aguente… Fiquem bem… D.

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