quinta-feira, 1 de abril de 2010

O divã.


Sinto-me com a alma um tanto ou quanto leve… sei que parece estranho eu dizer isto, mas acho que finalmente obtive de alguém uma resposta para a qual ninguém me sabia dar, se bem que eu também nunca perguntei, mas a verdade é que alguém me conseguiu mostrar afinal aquilo que eu queria esconder e do alto da sua simplicidade me apresentou um mundo não é matemático ou construído  a régua e esquadro.
                 Começando. Tudo começou por uma simples frase, ou melhor dizendo, uma piada a um conjunto de piada que me têm sido dirigidas nos últimos dias. Não é segredo nenhum do mundo, e pouco me admiraria se um dia destes aparecesse no “pirosojornal” da TVI, o simples de facto de que nos últimos tempos tem sido difícil eu arranjar “alma gémea”. A sociedade é perversa neste tipo de coisas e tem sempre o bom gosto de nos esfregar na lama.
Essa coisa de não passear na rua com a “mais-que-tudo” deu jeito durante algum tempo, assim ninguém fazia perguntas e para assegurar que ninguém fazia mesmo perguntas muitas dessas almas gémeas permaneceram no anonimato. Muito encontro secreto só tinha um objectivo, se um dia não tivesse alma gémea pelo menos ninguém estranhava, acontece, (e como todo o universo parecer saber aquilo que faz), que a idade avança e essa nunca, mas nunca perdoa a quem se deixa a deriva. Continua tudo na mesma, desde almoçar a jantar em casa da mãezinha, de tomar banho em casa da mãezinha, de dormir em casa da mãezinha, em suma vivo na casa da mãezinha, aquilo que venho fazendo durante anos e que não tem data limite por mais que a gente dê voltas a embalagem. Esse continuar na mesma leva a que as pessoas comecem agora a fazer perguntas. Perguntas essas que recaiam em relação ao futuro e principalmente á constituição de família.
Como eu disse ao inicio, alma gémea está difícil de encontrar, pelo menos que eu tenha conhecimento, o que tem vindo a adiar tanto a mudança de vida como o rompimento definitivo do cordão umbilical da mãezinha. Para que o cenário fique mais negro, de todos os irmãos sou o único que ainda não tem sogra, o que por si só poderia ser um alívio, torna-se agora uma arma de arremesso. Contudo e depois de muito ouvir nos últimos tempos as frases da praxe em relação a tudo isso, respondi que “desisti de procurar mulher, vou gastar o dinheiro do casamento na bimby”,  (ora vai buscar) seguido de um pontapé final com “é bom ser amado, melhor ainda é não ter que pagar para isso”.
Quando eu pensava que tudo terminava por ali e que aquelas piadas iam como que ser o fechar das cortinas de toda esta peça de teatro, sou confrontado por uma das pessoas presentes que de uma forma subtil me impressionou pelo conhecimento que tem da condição humana e da forma como devemos ver o mundo, ou melhor, como o devemos aproveitar. O curioso é que eu era o tipo do QI elevado, pois fui derrotado por alguém que tem um QE muito superior ao meu. A sua especialidade como que ali ficou expressa em forma de conselhos e de observações em relação a minha pessoa. Em segundos, tudo o que eu sabia sobre o pensamento humano, a sua formulação, a sua racionalidade e principalmente a forma cientifica como ele se processa perante o grupo, como que se desvaneceu e me empurrou para um turbilhão de pensamentos contraditórios.
Passam algumas horas desde que me “sentei no divã” e que de um segundo para o outro fui dissecado como nunca, mas ainda assim penso no assunto e ele teimosamente não quer sair da minha cabeça, o que se tornou pesado por alguns minutos de um momento para o outro como que elevou a minha alma a uma leveza estranha e desconfortável para o meu ser. Senti as minhas entranhas a perceber o funcionamento do universo em relação as relações humanas. Sinto-me um hominídeo que descobriu o fogo a poucas horas e não sabe bom o que fazer com ele.
Ok, o divã foi bom mas mesmo assim continuo sem encontrar a alma gémea, parece que vou ter que seguir o conselho dela e continuar a procura, pois como é de conhecimento geral, são as melhores que ficam para o fim, aquelas que não precisam de bimby e a quem o Marco Paulo imortalizou através da famosa frase “uma laidy na mesa, uma louca na cama”. Parafraseando a erudita, “vai uma, voltam duas”… Pois bem, “uma já foi”… metade está feito, agora só faltam os outros 50% da frase… Fiquem bem... D.

domingo, 21 de março de 2010

Praça Pública


Desde muito novo que fui aprendendo com o que os mais velhos, e normalmente mais “sabidos” me iam dizendo e explicando. Lembro-me claramente de vários conselhos sobre “civismo”. Exactamente. Civismo e tudo aquilo que a palavra representa. Era normal avisarem-me que era de “mau gosto” querer saber da vida dos outros, era de “mau gosto” coscuvilhar a vida dos outros, era de muito “mau gosto” ser invejoso em relação as posses materiais de cada um, era de “mau gosto” querer saber mais sobre as desgraças dos outros e fazer disso conversa de café e acima de tudo era de muitíssimo “mau gosto” fazer valores sobre a qualidade e a forma de vida dos outros.
Creio que estes valores ainda não se modificaram, creio que ainda é “feio” ter este tipo de comportamento. Creio que é feio andarmo-nos a vangloriar com aquilo que possuímos ou que atingimos em relação aos demais e creio acima de tudo que ainda é muitíssimo feio querer saber da vida dos outros.
Se assim ainda o é e se eu ainda estou correcto em relação a estes valores, então a minha pergunta é simples "Porque é que existem tantas revistas “cor-de-rosa”?" 
Seremos assim tão contra os valores do civismo ou apenas gostamos realmente de ser coscuvilheiros?

sexta-feira, 12 de março de 2010

Mé.


Méé méé mééé… é isto que ouço a minha volta. É esta a linguagem que quase todo o mundo fala, numa voz uníssona e monossilábica. São raras as excepções e quase (que aposto) que apenas um punhado de pessoas não fazem parte deste enorme, gigantesco e titânico grupo de ovelhas que independentemente do local onde se encontram no rebanho a linha de pensamento é a mesma, basicamente “copia e não penses”. É este rebanho que ostenta a bandeira com o nome “povo”. Que me desculpem todos, mas a verdade é que anda tudo num enorme rebanho, marcado a ferro com a inscrição “made in Portugal”. Não é meu objectivo, não posso, não quero e nem sequer vou tentar mudar o mundo a minha volta ou então passo de ovelha a burro e essa mudança morfológica ainda é bem capaz de ser dolorosa. O porquê disto tudo?!?!?... muito simples. Colocando de lado os mesmos gostos musicais, os mesmos gostos de moda, os mesmos gostos desportivos, e todos aqueles gostos que afinal não são gostos e são uma copia da ovelha do lado e que mesmo assim fazem com que cada ovelha se sinta originais e única, colocando isso tudo de lado, existe uma coisa que me irrita imenso, que me leva aos píncaros da loucura e que me fazem perder as estribeiras do bom senso, é a total falta de cultura desse enorme rebanho (mesmo que não o mostre fisicamente, estas sensações ficam a latejar no meu cérebro), mas pior do que isso ainda é o facto de não terem cultura e gozarem quem a tenha ou que a procure, como se fossem donos de todo o conhecimento, uma espécie de semi-deuses, uns verdadeiros filhos de Minerva.
Não temos que ser todos uns cientistas, não temos que ser todos autênticos génios, não temos que ser todos doutos, mas pelo menos devemos ter todos a noção de que por vezes evoluir, questionando ou procurando saber o “porquê das coisas”. Devem todas essas ovelhas perceber que nem tudo o que lhes indicam os “cães de guarda” é a verdade e que essa mesma verdade é insubstituível para todo o mundo. São essas ovelhas que se acham as maiores do curral que defendem os seus conhecimentos com toda a lã que tem no corpo, mas esquecem-se que afinal a lá que conhecem é apenas aquela que vêem a frente.
Aquele curral onde vivem estas ovelhas, é o único mundo que conhecem, acham que o resto dos currais que são iguais e que quem diz o contrário, ou é burro ou ovelha tresmalhada. São esses “reis do curral” que não tendo outra arma, berram “mé” ao ouvido de quem fala uma outra linguagem, são esses “carneiros e cabras” que gozam os que por infelicidade querem um pouco mais de cultura e um pouco mais de conhecimento. São essas ovelhas que á falta de visão se remetem ao que as ovelhas do lado dizem e não fazem o que quer que seja para se mexer pelo curral á procura das respostas.
Podem não concordar com quem quer ter conhecimento, mas pelo menos não berrem tão alto para parecer que sabem e que a razão é só vossa, porque da mesma forma que vocês berram o que querem, também os outros podem zurrar aquilo que querem… Fiquem bem…D.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Irrita..


Despedi-me do velhinho “eu”. Tenho andado tão irritado nos últimos dias que o mundo parece ter ficado mais pequeno, mais egoísta, muito mais “mau” e acima de tudo muito mais ignorante. Irrita-me estar neste estado de irritado (a minhas desculpas pela redundância), pareço um velho resmungão a quem não mudaram a fralda a tempo e ele não pode sair da cama. Não sei como isto começou, nem sei como vai acabar, mas certamente muita coisa vai sair daqui “para o melhor e para o pior”. O descontentamento começa quando o trabalho começa, esse é um ponto assente, mas ao contrário do normal ele agora tem-se expandido para lá da hora de expediente. Com esta irritabilidade matei o meu velhinho “eu”. O funeral foi a dias, com direito a salva de tiros e outras panóplias de alcoviteira á mistura. O velhinho “eu”, aquele sorridente para tudo e todos, politicamente correcto, amigo do amigo, sempre pronto a ajudar e um certinho do caraças, entrou em conflito com o novo “eu” que nasceu e cresceu a dias, tornando-se adulto num piscar de olhos, e o velhinho “eu” aquele companheiro de longa data não aguentando o novo “eu” acabou por morrer. O choque provocado por ambos ditou a morte do mais fraco. Sendo assim o velhinho “eu” morreu definitivamente, não há volta a dar. Subiu o novo “eu” ao poder.
                Andar irritado só me fez ver o mundo de uma nova perspectiva. O novo “eu” é mudo para com o mundo e apenas fala se lhe perguntarem alguma coisa de uma forma directa e com todas as palavras dentro do contexto e correctamente colocadas na frase e mesmo quando lhe perguntam pensa sempre o quão estúpido é quem lhe fez aquela pergunta. O novo “eu” é cumpridor apenas dos horários de trabalho, aos outros horários gosta de os tornar flexíveis, principalmente os horários destinados ao ócio. O novo “eu” detesta ouvir os outros a falar, em conversas sem qualquer fundamento em que o “diz que disse” impera, para o novo “eu” isso não existe e dá direito a tribunal por levantamento de falsos testemunhos. O novo “eu” crê e tem quase a certeza absoluta que está um patamar acima da média e que os seus conhecimentos são na sua maioria infinitos. Mas o novo “eu” continua irritado e essa irritabilidade não lhe faz ver a verdade dos seus actos. Crê que está certo, mas na realidade talvez apenas esteja em parte certo, crê ser superior quando na realidade os outros todos o vêem no mesmo patamar. Mas mesmo assim começo a gostar deste novo “eu” e não vai ser o desaparecer desta irritabilidade que o vai dissipar. Um novo funeral é que não faço, dois funerais seguidos não há ser humano que aguente… Fiquem bem… D.

O primeiro de muitos


Não sei se existem mais pessoas no mundo, e provavelmente existem, com o mesmo problema que eu. Eu não conduzo, na realidade penso e mantenho o cérebro activo e a navegar para lá do permitido enquanto prático aquela acção de conduzir um automóvel. Isto normalmente acontece com mais frequência nas solitárias viagens entre casa e o empresa e entre a empresa e casa. Espero que não exista nada no código da estrada que o proíba ou então creio que o meu cadastro vai passar a ser maior que as paginas amarelas. Sei que parece estranho, mas aquelas viagens são uma espécie de ida ao psicólogo, para mim tudo fica ali em pratos limpos e sempre que saio do carro tudo o que pensei fica para trás numa espécie de confidencia doutor – paciente, neste caso entre mim e mim e o carro as vezes. Por norma a música da rádio acompanha o meu raciocínio e ajuda de uma forma indirecta na resolução dos problemas, apenas peço para que o rádio nunca avarie. Sei que não devo ser o único a ter a sensação estranha de pensar de que forma o carro chegou a casa ou de que forma “eu” cheguei a casa, mas a verdade é que aqueles minutos diários fazem melhor pela minha saúde mental do que uma enchente de comprimidos xanax ou prozac.
Espero bem não ser o único no mundo a ter esta sensação, ou então estou bem tramado.
Que aquela empresa me dá cabo dos nervos e que o trabalho se arrasta até ao sossego do lar não é segredo para ninguém e todos os amigos são unânimes em relação a esta constatação. Aquilo não é um emprego, é o inferno na terra e nem de extintor aquilo acalma. (ponto) São aquelas viagens que me acalmam a alma. São aquelas viagens que me aliviam a tensão e evitam que eu tenha um AVC, um enfarte ou coisa parecida.
É com base nas ilações que muitas vezes resultam daquelas viagens, que decidi começar a escrever neste blog, preciso sem dúvidas de partilhar algumas das coisas que penso sejam elas correctas, incorrectas, boas ou más, a verdade é que preciso mesmo de dissertar sobre muita coisa. Ainda bem que para estes lados o trânsito flui ou então estaria tramado com o meu agente de seguros.
E como começar este blog??? Desde já e em jeito de inicio quero agradecer aos amigos, (aviso prévio: isto vai parecer a entrega dos Óscares) aos amigos que são verdadeiros amigos, aos amigos que vão ainda ser amigos, aos amigos dos amigos, aqueles amigos que querem ser amigos e que ainda não o são, aos amigos que estão longe e que ainda se lembram de nós, aos amigos que nem sabia que eram amigos, aos amigos da onça (podem ser amigos, mas mesmo assim lutam pelo nosso lugar), aos amigos que eram amigos e que deixaram de ser amigos… bem a estes últimos eu apenas tenho a dizer que se deixaram de ser amigos é porque alguma coisa aconteceu e de certeza não fui eu que mudei, alias nem de telemóvel eu mudei… aos que se vão tornar amigos depois de lerem isto e claro como não podia deixar de ser, as amigas dos amigos e amigas que queiram que eu seja mais do que um amigo. A todo eles o meu obrigado… (eu avisei)…
                Curioso é que foi numa destas viagens que eu percebi os amigos. Agora percebo a sua maneira de ver o mundo, percebe os que são realmente meus amigos, aqueles em que posso confiar alguma coisa ou coisa nenhuma. Porque continuo a dizer que são eles o mais importante no mundo, porque tenho para mim que quem perde um amigo perde uma parte importante da sua vida.
                Só não deixo aqui agradecimentos aos amigos imaginários porque graças as viagens ainda não cheguei a esse estado. Se esse dia chegar, arranjo forma de trabalhar a uns 300km pelo menos de casa. Fiquem bem…. D